terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sobre D+Sect



Mais de três anos se passaram desde o lançamento do último álbum do Moi dix MoisDixanadu. Nesse meio tempo, o líder da banda Mana se dedicou ao seu trabalho como compositor freelance e produtor para o gigante da mídia, Sony, onde ele ajudou a jovem vocalista e violoncelista Kanon Wakeshima a embarcar em um começo promissor. Em 15 de dezembro do ano passado, um novo álbum do Moi dix Mois finalmente chegou às lojas, embora apenas no Japão. No que ele se compara aos anteriores? A excursão de Mana no mundo da música pop influenciou seu trabalho com o Moi dix Mois e, se influenciou, de que maneira?

O CD começa com uma breve introdução, In Paradisum, ressaltado com um coral, um sintetizador e um órgão de tubo que cria uma atmosfera solene e nefasta relembrando o primeiro álbum do Malice MizerBara no seidou. Com The Seventh Veil, contudo, o sentimento de nostalgia chega a um fim súbito. A música começa com um dramático voleio de sopro, que, de acordo com Mana, foi inspirado pelos sete trompetes do Final Judgment in the Book of Revelations (Juízo Final no Livro do Apocalipse). Essa introdução incomum é seguida pelas guitarras, espineta e a percussão galopante, que é interrompida repetidamente por interlúdios calmos, melódicos. O que é particularmente admirável, é o trabalho da guitarra, que está muito mais ativa que nos álbuns anteriores. Seth começa com os grunhidos guturais mortais, mas logo muda para o familiar vocal operístico, apoiado pela soprano Kozue Shimizu.

O primeiro solo de guitarra pelo meio da música vem como uma surpresa. Até agora, as composições de Manapara o Moi dix Mois se focaram em criar uma atmosfera firme, excitante emocionalmente pela interação dos instrumentos. Exibir suas habilidades técnicas foi o menos importante, e você não teria esperado ouvir o tipo de solos intricados pelo qual, por exemplo, o Versailles é famoso. Com D+Sect essa aproximação muda subitamente: a música está atmosférica como sempre, mas o trabalho da guitarra foi enriquecido com todos os tipos de detalhes e alcança um patamar completamente novo.

A próxima faixa é tão dinâmica quanto nova. Withcraft é uma mistura explosiva de riffs pesados de guitarra com eletrônicos de pista de dança, dominado por um sintetizador ameaçador, motivo que soa como um encantamento. No melódico refrão, uma espineta trina aqui e ali. Para manter o caráter eletrônico da música, a voz de Seth é artificialmente distorcida em umas partes. De todas as músicas do álbum, essa é que mais provavelmente ficará presa na sua cabeça.

The SECT começa ilusoriamente gentil com um coral e o vocal terno e suave de Seth, mas é logo interrompido pelas guitarras gêmeas, iguais e pesadas. Apoiada por cordas, a composição incialmente agradável, transforma-se em um hino monumental de gothic metal, e as emoções ardentes ocasionalmente irrompem em gritos. Durante o último minuto, a soprano se junta e termina a música em uma nota melancólica. 

Agora, o clima do álbum se torna contemplativo. Divine Place é aberta por Kozue Shimizu, cujos vastos tremolos se misturam com os acordes solenes de guitarra, o órgão de tubo e finalmente a alegre espineta. Quase um minuto depois, Seth se junta e, apoiado por riffs pesados e ainda mais órgão de tubo, ele começa a construir o tema principal. Um segundo interlúdio soprano é acompanhado por um lamentoso solo de Manaantes de Seth trazer o opus para uma conclusão dramática. Com quase seis minutos de tempo total, essa é a música mais longa do álbum.

A melancólica Pendulum começa com os sons de chuva e trovões, de sinos de igreja e de um nefasto e ondulante órgão de tubo, que volta mais vezes e dá a música um distinto caráter sacro. De acordo com Mana, essa composição foi inspirada no começo do rock gótico de 1980, que é refletido em guitarras distorcidas, ritmo tribal na bateria e atmosfera sombria. O refrão emocionalmente carregado, espineta, violinos e coro angelical, contudo, estão firmemente enraizados no presente.

O instrumental poderoso de The Pact of Silence, cujo título se refere à opinião de Mana de que as pessoas podem se comunicar sem palavras, é acompanhada por um agradável remake do clássico Ange, que foi recentemente readmitida no repertório dos shows da banda. A nova versão ecoa o caráter agressivo da original e a espineta domina o arranjo musical, mas Mana coloca uma forte ênfase nas guitarras gêmeas e adiciona um coral, fazendo soar tanto familiar como também nova e contemporânea. Também dá a oportunidade para Seth eK deixarem suas marcas na música da era Juka.

Agnus Dei é um número mid-tempo (nem muito rápida, nem muito lenta) com um ar quase animado e um refrão melódico que faz você querer cantar junto. Guitarras, coro, espineta e órgão de tubo são mais tênues e formam um discreto pano de fundo para o vocal aveludado de Seth, que agora ocupa o centro do palco. Diante do final da primeira metade, um discreto solo de guitarra estabelece um auge adicional. O clima do álbum muda completamente de novo com Sanctum Regnum, o equivalente a Dispell Bound em 2010: em shows, Seth e os fãs realizam o “D-I-X-DIX” juntos durante essa música. É quase tão enérgica para esse propósito; você provavelmente iria mais bater cabeça violentamente para os acordes de guitarra gritantes do que balançar os braços obedientemente! O interlúdio diante do final não seria algo fora do comum na trilha sonora de The Omen: subitamente todos os instrumentos se calam, exceto por um coro entoando ritualisticamente e um sino de altar solene e pequeno; então, as guitarras voltam e a música termina tão poderosa quanto começou.

Dead Scape descreve as alucinações que Mana teve durante um sonho febril, que é refletido em um arranjo musical. A introdução soa como se fosse gravada dentro de águas profundas – um acontecimento auditivo que frequentemente acompanha a febre alta. Então, os riffs brutais de guitarra irrompem, incitados pela direção do ritmo do baixo, como se o sangue estivesse batendo na cabeça do ouvinte. A voz de Seth se alterna entre sussurros roucos, gritos de metal nunca antes ouvidos e, no coral, vocais operísticos. Um solo de guitarra particularmente animado adiciona o último encanto. No geral, é uma música muito incomum e definitivamente uma nova direção para o Moi dix Mois.

O final é mais uma vez solene. O título Dies Irae, que se refere novamente ao Juízo Final, tem esse nome devido a um hino medieval que foi cantado como parte de um réquiem católico em missas. Coro e harmonias de órgão de tubo, que rementem novamente a Bara no seidou, contrastam com as guitarras gêmeas pesadas e o som furioso da bateria. Juntos, eles constroem um refrão dramático. À parte de Dead ScapeSeth soa mais impressionante aqui.

O álbum termina assim como começou, com um instrumental. Em concordância ao título Baptisma, nós ouvimos o murmúrio do oceano e o quebrar das ondas antes do órgão de tubo e do coral de igreja terminar a faixa com uma nota contemplativa.

O trabalho com a Sony claramente levantou a confiança de Mana, mas aqueles que temeram que isso resultaria em um som mais benigno do Moi dix Mois podem respirar aliviados. D+Sect está estourando com poder e vitalidade e casa a agressividade do Dix Infernal com a complexidade e a sofisticação do Dixanadu. Todos os elementos que inventam o som inconfundível do Moi dix Mois - guitarras duplas, eletrônicos e instrumentos clássicos – foram polidos para um final refletido e brilhante sob uma excitante luz nova. Mas a maior surpresa é o desenvolvimento da técnica na guitarra de Mana para solos vivos, o que eleva a sua música para um nível completamente novo. Depois de uma ausência de três anos, Moi dix Mois precisava de um álbum extraordinário para se fazer ouvidos em um cenário cada vez mais cheio. Eles conseguiram mais que exceder a esse objetivo.

(Fontes-JaME)

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