E aqui está a história que fez ( incrivelmente) todas as pessoas que leram,chorar.E,bem,é um pouco grande sim.Mas,vale a pena ler.Vê se você chora ou não e depois me conta-qqqq ( Título de uma das músicas do Malice,que deu certinho.)
Au Revoir
Há dois momentos em minha vida de que sempre vou lembrar,não importa a onde vá,e isso é uma promessa.
Era um dia comum desses de verão e eu e minha amiga estávamos andando pela rua.Como de costume,ela ia pela parte sombreada e eu seguia pela trilha do sol.Não me lembro ao certo sobre o que falávamos,mas com certeza era uma de nossas rotineiras besteiras.
Estávamos ali,no vácuo entre um casa de aparência antiga e grande,cuja a frente era encoberta por um pequeno jardim,onde floresciam rosas brancas.Minha amiga e eu paramos,por um momento,de falar qualquer coisa e fixamos nossos olhares para a casa.O que atraia nossos olhar era nada mais nada menos que uma velha senhora,que sempre nos observava quando passávamos por ali.Estava na janela e só seus olhos se mostravam.Percebia-se por eles mesmos,que ela já não estava mais tão jovem.Eram pequenos e a pele tinha rugas profundas e marcas do tempo que toda e qualquer mulher tem.Os cabelos curtos e cheios de vida,batiam mais ou menos até próximo de suas orelhas.
Eu puxei minha amiga mais para perto e em seu ouvido,disse alguma coisa como: “Te desafio a dizer oi para ela.Creio que não vá te morder.”Ela fez um breve gesto com a cabeça e em questão de segundos disse oi à ela.Eu fiquei meio sem jeito mas também disse oi e algo inesperado aconteceu.Ela debruçou sobre nós um olhar cheio de ternura e,levantando sua mão,acenou enquanto dizia um “olá” meio fraco,mas que mais tarde descobri ser sua voz.
Naquele dia,nós seguimos para a escola sorrindo.
E tudo foi mais ou menos assim.Dizer oi para aquela senhora já virava rotina e agora,não mais na janela mas sim na porta,ela sentava e ficava nos esperando passar.Nós sempre nos abríamos em um “Oie” que não era nada forçado.Era nossa alegria transparecendo nossa mente.
Mais ou menos três e meia de um sábado, eu e minha amiga conversávamos na sala de minha casa.Ela me disse o quanto achou graça de ter falado oi para a senhora e agora falar sempre.E foi aí que tivemos uma idéia.Comprar um presente,por mais barato que fosse,e levar para ela,afim de fazer uma visita rápida.E foi assim que apareceu Letícia,uma outra amiga nossa que faria parte dessa história.
Seguimos pela rua contentes e ansiosas. Três garotas, ansiosas para visitar uma velhinha que nem sabíamos o nome, coisa que não se vê todo dia. Já próximas de uma pequena e escura lojinha, entramos. Lembro de ficar indecisa quanto ao presente,mas logo encontramos um belo pato de vidro,cujo interior era cheio de água e dentro,uma rosa azul se via.Achei que lembrava ela,pois seu jardim de frente tinha uma linda e frondosa roseira branca.
Nós entramos.Primeiro batemos na porta e,depois disso,entramos.A casa era linda de todo jeito que imaginar.Era pequena,mas de súbito levamos um susto,pois era muito bem decorada com flores e retratos.Ela direcionou um olhar muito terno para nós e nos cumprimentou dizendo algo por assim entendido: “Achei que vocês nunca viriam”.Nós entregamos seu presente e logo depois que ela abriu e nos esbanjou outro grande sorriso,dessa vez ainda maior,disse que era lindo e nós a abraçamos.
Aquele foi nosso primeiro abraço.
Nos acomodamos num sofá próximo de uma parede,onde jazia um espelho enorme e oval.Lembro-me apenas,de que conversamos sobre um rato que invadia o quintal da senhora.Aliás,Donira era seu nome.Dissemos algo sobre nossos pais e coisas parecidas.Ela nos mostrou do que gostava:assistir televisão e comer.E assim,bem rápido,me simpatizei com ela.
Depois disso tudo,até o momento em que saímos de lá,prometemos a nós mesmas que voltaríamos lá.E passaram-se dias de muitos olás e sorrisos.Elas sempre nos esperando na porta,com as mãozinhas sobre o colo.E nossa segunda visita se passou,depois de um pouco de tempo.Foi quase igual a outra só que um pouco menor.
Eu me lembro ainda hoje.Me lembro de sua voz dizendo para que ficássemos mais.Estávamos em plena sorveteria.Ela nunca saia e não tínhamos nada para fazer.Foi aí que decidimos visitá-la novamente.
Chegamos pulando e nos embaraçando com o portão,que já enferrujado era difícil de se abrir.Ela estava na porta dessa vez.Com seu sempre sorriso gigante e eterno.Sentamos e falamos sobre comida.Como não faz mais de um mês,me lembro bem disso.Sua voz sempre me soa lenta e aconchegante,como Monophobia.Donira nos contou sobre sua comida preferida,a galinhada, e nos disse também,que em janeiro do ano que viria,nos chamaria para um churrasco em sua casa.Eu prestava bastante atenção,pois ela estava falando diretamente comigo,enquanto minhas amigas conversavam com Lurdinha,uma mulher velha também,que trabalhava na casa de nossa velhinha.
Como último assunto,ela nos disse que estava sentindo uma dor muito forte e sua perna já não estava tão boa.Nós a aconselhamos a chamar um médico e ela nos disse que faria isso no dia seguinte,uma segunda feira.
Foi nossa terceira e última visita e se soubéssemos, teríamos ficado mais e mais em sua presença.
Alguns dias mais tarde,após descobrir que ela havia sido internada,estava pouco acordada em minha cama.Me espreguiçando de forma ridícula e pregando os olhos logo depois,eu levantei-me de súbito, e agucei meus ouvidos.No andar de baixo minha mãe disse claramente: “Ainda não acredito que Donira morreu”.
Coloque minhas mãos sobre meu rosto e chorei.Livremente...Meu choro limpou minha alma.
Estava na escola,minhas amigas e eu comentando sobre sua morte.Eu e Letícia choramos dentro da sala e relembramos os melhores momentos ao lado dela,aquela senhora que ainda nos persegue pelo sonho.
Eu não sei se existe um céu,se existem anjos e um Deus.Eu sei que acredito nisso e acreditarei pelo resto de minha vida.Aquela senhora morreu dizendo que queria ser,pela última vez,visitada por nós,nem que se fosse em seu velório.E assim comecei a crer mais e mais em anjos,afinal eu tive a alegria de conviver,por pouco tempo com um,que ainda existe e me olha lá do céu.Eu creio que ainda posso senti-la e ouvir sua voz perto de mim,nos momentos mais remotos de minha vida.
“ Um anjo sem asas viveu,
Neste mundo por pouco tempo
E levou consigo parte da felicidade
Que se encontrava em meu coração.
Eu me lembrarei de duas coisas,
E isso é uma promessa.
Vou me lembrar de seu sorriso sobre nós e
De sua figura sentada sobre o sofá,erguendo
As mãos para expressar seus sentimentos mais profundos,
Dizendo apenas olá.
Um anjo sem asas viveu,
Neste mundo e me alegrou.
Eu vou encontrá-la em outro mundo
E vou conversar pela eternidade
Assuntos que esqueci,
Prosas de que não me recordei.
Ainda vou ver seu sorriso,
Ainda vou ver sua alegria.
Um anjo sem asas viveu,
Neste mundo e faleceu,
Deixando um buraco eterno
E manchas de alegria esquecidas
Em meu coração.”